Como Lidar com a Autolesão

Lidar com a Autolesão e a ideação suicida é um desafio significativo, e é crucial abordar esses sentimentos com seriedade e compaixão

Herlane Soares

11/2/20246 min ler

Você já ouviu falar no “Setembro Amarelo”? É uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina, dedicada à prevenção do suicídio. O tema é um importante problema de saúde pública e, infelizmente, vem crescendo no mundo e aqui no Brasil.

A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022. Já as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 aumentaram 29% a cada ano nesse mesmo período. O número foi maior que na população em geral, cuja taxa de suicídio teve crescimento médio de 3,7% ao ano e a de autolesão 21% ao ano, neste mesmo período. Esses resultados foram encontrados na análise de um conjunto de quase 1 milhão de dados, divulgados em um estudo recém-publicado na The Lancet Regional Health – Americas, desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard. Calcula-se que, em média, + 38 pessoas cometem suicídio por dia. E entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte. Mudanças fisiológicas nessa faixa etária são um gatilho para que o jovem desenvolva algum transtorno mental.

Um deles é autolesão, que é qualquer comportamento intencional que envolve uma agressão ao próprio corpo sem intenção de suicídio. Mas que pode ser considerado um fator de risco para o suicídio.

Para vocês terem uma ideia, só em 2019 foram registradas 124.709 lesões autoprovocadas no Brasil, e as mulheres foram a maioria das vítimas, com 71% do total de registros. A maioria das lesões foi na faixa de 20 a 39 anos.

“As taxas de notificação por autolesões aumentaram de forma consistente em todas as regiões do Brasil no período que analisamos. Isso também aconteceu com o registro geral de suicídios, que teve um crescimento médio de 3,7% ao ano”, explica Flávia Jôse Alves, pesquisadora do Cidacs/Fiocruz e líder da investigação. Para chegar às conclusões, a equipe analisou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Redução global, mas aumento nas Américas

Apesar da redução de 36% no número de suicídios em escala global, as Américas fizeram o caminho inverso. No período entre os anos 2000 e 2019, a região teve aumento de 17% nos casos. Nesse período, o número de casos no Brasil subiu 43%.

Em relação aos casos de autolesões no Brasil, a pesquisa do Cidacs/Fiocruz constatou que, em 2022, houve aumento das taxas de notificação em grupos de todas as faixas etárias, desde os 10 aos mais de 60 anos de idade.

A pesquisa também avaliou dentro desse período os números de suicídios e autolesões em relação a raça e etnia no país. Enquanto há um aumento anual das taxas de notificação por essas lesões autoprovocadas em todas as categorias analisadas – indígenas, pardos, descendentes de asiáticos, negros e brancos – o número de notificações é maior entre a população indígena, com mais de 100 casos a cada 100 mil pessoas.

“Mesmo com maior número de notificações, a população indígena apresentou as menores taxas de hospitalização. Esse é um indício forte de que existem barreiras no acesso que essa população tem aos serviços de urgência e emergência. Existem diferenças entre a demanda de leitos nos hospitais e quem realmente consegue acessá-los, e isso pode resultar em atrasos nas intervenções”, afirma a pesquisadora.

Estabilidade na pandemia de Covid-19

Com a mudança da dinâmica nas relações sociais durante a pandemia de Covid-19, aumentaram as discussões sobre transtornos mentais como ansiedade e depressão. No entanto, de acordo com Flávia Jôse, o registro de suicídios permaneceu com uma tendência crescente ao longo do tempo, não tendo apresentado uma mudança no período da pandemia. “Apesar de ter sido um dos países mais afetados pela pandemia, outras pesquisas já relataram que as taxas de suicídio no período se mantiveram estáveis. O principal aqui é que, independentemente da pandemia, o aumento das taxas foi persistente ao longo do tempo”, explica.

Riscos multifatoriais e políticas necessárias

Segundo as pesquisadoras, ter dados de qualidade disponíveis é uma estratégia importante de prevenção e monitoramento do suicídio. O acesso a estes dados ainda é um problema grande no mundo todo, seja por estigma ou questões legais: “O Brasil sai na frente nesse sentido, porque tem três diferentes bases de dados com essas informações, e elas podem ser usadas para revelar evidências que a gente pode não ver ao analisar um banco único”, afirma Flávia.

Estudos anteriores do Cidacs/Fiocruz já associaram o aumento do número de suicídios com o aumento das desigualdades sociais e da pobreza e com o crescimento da prevalência de transtornos mentais, que causam um impacto direto nos serviços de saúde, além de relatar as variações nas taxas em relação a cada região. Segundo Flávia, o estudo atual enfatizou a importância de mais políticas e intervenções: “Estamos reforçando a necessidade de mais estratégias de prevenção ao suicídio ao trazermos estes resultados”, conclui.

O que faz uma pessoa cometer uma violência contra o próprio corpo? Que sinais a pessoa que está cometendo autolesão pode passar? Como abordar esse jovem e oferecer ajuda? Existe tratamento para a autolesão?

Aqui estão algumas orientações que podem ajudar:

1- Reconhecer e aceitar os sentimentos

Valide seus sentimentos : É importante considerar que o que você está sentindo é real e que você não está sozinho. Muitas pessoas enfrentam sentimentos semelhantes, e é normal buscar ajuda.

Identifique os gatilhos : Tente observar quais situações, emoções ou pensamentos precedem a autolesão ou os pensamentos suicidas. Isso pode ajudar na conscientização e na busca de estratégias de enfrentamento.

2- Buscar Apoio

Converse com alguém de confiança : Compartilhe seus sentimentos com amigos, familiares ou profissionais de saúde mental. Abrir-se sobre suas lutas pode ser um passo importante para encontrar apoio.

A terapia Psicanalítica pode ser uma abordagem profunda e transformadora para pessoas que praticam autolesão, pois buscam compreender e tratar as causas emocionais e inconscientes que levam a esse comportamento. Diferentemente de terapias que se concentram apenas nos sintomas, a psicanálise explora conflitos internos, traumas passados ​​e mecanismos de defesa para promover uma mudança rigorosa.

3- Desenvolver Estratégias de Enfrentamento

Alternativas à autolesão : Quando sentir vontade de se auto lesionar, tente outras atividades que possam aliviar a tensão emocional, como:

  • Escrever em um diário

  • Praticar exercícios físicos

  • Criar arte ou praticar artesanato

  • Usar uma bola antiestresse

  • Aplicar uma compressa fria na pele

  • Técnicas de relaxamento : Práticas como mindfulness, meditação e respiração profunda podem ajudar a irritar a mente e aumentar a ansiedade.

4- Criar um Plano de Segurança

Recursos de identificação : Tenha uma lista de pessoas para quem você pode ou com quem pode conversar quando você estiver sentindo mal.

Estabeleça um plano : Escreva um plano que inclua sinais de alerta, gatilhos, estratégias de enfrentamento e contatos de emergência (como um amigo, familiar ou profissional de saúde).

5- Evitar Isolamento

Mantenha-se conectado : Evitar o isolamento é fundamental. Participar de atividades sociais ou grupos de apoio, mesmo quando não estiver com vontade, pode ajudar a sentir alívio de solidão.

Atividades que trazem alegria : Dedique tempo a hobbies e atividades que você gostava, mesmo que não sinta vontade. O engajamento pode ajudar a melhorar seu humor.

6- Educação e Conscientização

Aprenda sobre autolesão e ideação suicida : Entenda que esses comportamentos são respostas a dor emocional e que há maneiras de lidar com essa dor pode ser encorajador.

Reconheça que a recuperação é um processo : É importante lembrar que lidar com esses sentimentos é uma jornada e pode levar tempo. Tenha paciência consigo mesmo.

7- Procure Ajuda Imediata em Situações de Crise

Se você ou alguém que conhece está em perigo imediato ou em uma crise de suicídio, procure ajuda de emergência imediatamente. Ligar a um serviço de emergência ou a um centro de crise pode ser vital.

Recursos de Apoio

Centros de Crise : Procure o centro de crise local ou uma linha direta de emergência em sua área. Muitas ofertas de suporte 24 horas para quem está em crise.

Profissionais de Saúde Mental : Psicanalistas, Psicólogos, Psiquiatras e terapeutas são treinados para ajudar com esses sentimentos.

Conclusão

Lidar com a autolesão e a ideação suicida é uma jornada desafiadora, mas existem caminhos para a cura. Buscar apoio e desenvolver estratégias de enfrentamento pode fazer uma diferença significativa. Lembre-se de que você não está sozinho e que há ajuda disponível.

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