5 passos para ajudar uma pessoa que está pensando em suicídio

Ajudar alguém que está passando por pensamentos suicidas é um processo delicado e, muitas vezes, desafiador, mas que pode fazer uma grande diferença.

Herlane Moreira

11/1/20246 min ler

Em 1774, o escritor alemão Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) publicou Os Sofrimentos do Jovem Werther. No romance, Werther ama Charlotte, que ama Werther, mas se casa com Alberto. Desiludido, Werther tira a própria vida. Reza a lenda que, por ocasião de seu lançamento, o livro teria encorajado uma onda de suicídios entre jovens leitores na Europa. Tanto que foi proibido em países como Itália e Dinamarca. Ainda no século 18, o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) estreou, em 1791, A Flauta Mágica. Na ópera, Papageno, a exemplo de Werther, também sofre por amor e, por esse motivo, cogita dar fim ao seu sofrimento. No entanto, ao contrário do protagonista de Goethe, é convencido a não tirar a própria vida. Em vez disso, se apaixona por Papagena e dá um novo rumo a sua vida. Mal sabiam Goethe e Mozart que, séculos depois, suas obras seriam estudadas pela ciência. Em 1974, o sociólogo americano David Phillips cunhou o termo Efeito Werther e, em 2010, o pesquisador austríaco Thomas Niederkrotenthaler criou o conceito de Efeito Papageno. O primeiro defende a tese de que divulgar um ato suicida na mídia teria efeito “contagioso”. Já o segundo argumenta que, ao contrário, teria resultado preventivo. Mas, afinal, publicar matérias sobre suicídio na imprensa previne ou estimula novos casos?Estudo publicado na revista científica PLOS One revela que, só nos Estados Unidos, a morte de Robin Williams gerou um aumento de 10% no número de casos de suicídio nos cinco meses posteriores à morte do ator, no dia 11 de agosto de 2014. Embora o fenômeno tenha sido observado em ambos os sexos e em todas as faixas etárias, homens entre 30 e 44 anos foram os mais afetados. No caso da personagem Hannah Baker, de 13 Reasons Why, o aumento foi um pouco maior: 13% nos casos de suicídio de norte-americanos de 10 a 19 anos, entre abril e junho de 2017, os três meses seguintes à estreia do seriado. Em relação ao gênero, o crescimento foi de 12% para os meninos e de 21% para as meninas. O estudo foi publicado na revista JAMA Psychiatry.

“Precisamos conscientizar a população de que suicídio não é saída nem solução. É sofrimento e desespero. Na hora do desespero, o indivíduo acha que o suicídio é a única solução que existe. Mas, há alternativas. O suicídio é um problema de todos”, afirma a psicóloga. Em 2000, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o manual Prevenção do Suicídio, voltado para profissionais da mídia. Coordenada pelo psiquiatra italiano Diego de Leo, a cartilha lista exemplos do que fazer e do que não fazer.

No primeiro grupo, orienta referir-se ao suicídio como “consumado”, apresentar dados em páginas internas de jornais e revistas e fornecer números de telefones e endereços de grupos de apoio. No segundo grupo, recomenda, entre outros, não publicar fotos do falecido ou cartas suicidas, não informar detalhes do método utilizado e não usar estereótipos religiosos ou culturais. Em 2020, especialistas líderes em prevenção do suicídio se juntaram a diversas organizações internacionais, escolas de jornalismo, empresas de mídia, jornalistas renomados e experts em segurança na internet para elaborar mais recomendações. Elas foram baseadas em mais de 50 estudos internacionais sobre suicídio. O projeto, chamado Reporting on Suicide, chama a atenção para o fato de que o efeito de contágio é real, mas destaca que as reportagens jornalísticas podem resultar na busca por ajuda quando incluem recursos úteis e mensagens de esperança e recuperação.

“Um dos maiores erros é dar um tom sensacionalista à cobertura”, avisa a socióloga Dayse Miranda, presidente do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES). “Manchetes como ‘epidemia de suicídio’ e informações como ‘a cidade com a mais alta taxa de suicídio do mundo’ devem ser evitadas porque causam impacto na população”. A recomendação sobre não divulgar detalhes do suicídio faz todo sentido. Em 2020, o pesquisador austríaco Thomas Niederkrotenthaler, o criador do Efeito Papageno, revisou os dados de 31 estudos sobre a associação entre relatos de suicídios na mídia, principalmente os cometidos por famosos, e taxas de suicídio na população em geral. Em geral, o aumento é de 13%. Mas, quando os meios de comunicação divulgam o método utilizado pela celebridade para dar fim à própria vida, o índice tende a saltar para 30%. O fenômeno foi estudado na Europa, Ásia, América do Norte e parte da Oceania (Austrália).

Saída de emergência

Para a psicóloga Karen Scavacini, a resposta à pergunta acima é: “Depende”. Dependendo do jeito como o assunto é tratado, ele pode contribuir tanto para o aumento do número de casos, se for abordado de maneira superficial e apelativa, quanto para sua redução, se o tratamento dado for cuidadoso e responsável. “O ideal é mostrar onde buscar ajuda ou como ajudar a quem precisa”, destaca.

CEO do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio e diretora científica da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio (ABEPS), Karen explica que, se o leitor mais vulnerável se identificar com a pessoa, celebridade ou personagem que cometeu o suicídio, o risco de querer fazer o mesmo é grande. Ela cita os exemplos do ator Robin Williams (1951-2014) e da estudante Hannah Baker, personagem da atriz Katherine Langford na série 13 Reasons Why, produzida pela Netflix. Fonte: Reporting on Suicide, 2020.

Mito ou realidade?

No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) também lançou um manual, o Como Vai Você?, de 2020. Mas, se o guia da OMS é voltado para jornalistas, o do CVV é direcionado para pais e educadores. Com apoio técnico do psiquiatra Neury Botega e da psicóloga Karen Scavacini, a cartilha ensina a identificar os sinais de comportamento suicida entre atitudes (mudanças de comportamento, desejos de morte e oscilações de humor, entre outros) e expressões (“Quero sumir”, “Não aguento mais”, “Estou cansado de tudo”…).

Também disseca alguns mitos, como “A maioria dos suicídios acontece de repente, sem aviso prévio”, “Quem fala em tirar a própria vida não o faz” e “Tocar no assunto pode dar ideia a quem não estava pensando nisso”. “O suicídio é um fenômeno multifatorial. Em outras palavras, não há uma única razão para uma pessoa decidir tirar a vida. Todas as hipóteses são possíveis. Não nos cabe julgar o que aconteceu, nem culpar ninguém pelo que aconteceu”, explica a psicóloga Maria Júlia Kovács, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM) da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo dados do CVV, cerca de 3,5 mil voluntários atendem uma média de 8 mil ligações por dia através do número 188 (ligação gratuita).

Aqui estão cinco passos para ajudar alguém que está enfrentando essa situação:

1- Ouça com Empatia e Sem Julgamento

Muitas pessoas com pensamentos suicidas sentem que ninguém as compreende ou que estão sozinhas. Ouvir com atenção, empatia e sem julgamento permite que uma pessoa se sinta acolhida e compreendida. Evite oferecer conselhos imediatos ou minimizar os sentimentos dela com frases como "Isso vai passar" ou "Não é tão ruim assim". Em vez disso, frases como "Estou aqui para ouvir você" ou "Me conte como você está se sentindo" podem abrir o espaço para ela compartilhar.

2- Valide os Sentimentos da Pessoa

Demonstre que os sentimentos dela são reais e dignos de atenção. Validar esses sentimentos ajuda a construir confiança e mostra que você leva a sério. Dizer algo como "Eu entendo que isso está sendo muito difícil para você" ou "Parece que você está passando por uma dor muito intensa" ajuda a pessoa a se sentir concentrada e respeitosa.

3- Encoraje a Pessoa a Procurar Ajuda Profissional

A presença de um profissional de saúde mental, como um Psicanalista, psicólogo ou psiquiatra, é essencial para quem enfrenta pensamentos suicidas. Explique que buscar ajuda é um sinal de força e que há profissionais preparados para oferecer suporte. Ofereça-se para ajudar uma pessoa a encontrar um terapeuta, agendar uma consulta ou até mesmo acompanhá-la, para que ela se sinta confortável.

4- Esteja Presente e Disponível

Mantenha contato constante e esteja presente para a pessoa, demonstrando que ela pode contar com você. Ligue ou envie mensagens para saber como ela está, convide-a para atividades leves ou para conversar. Apenas o ato de estar disponível pode trazer uma sensação de apoio e acolhimento.

5- Ajude a Criar um Plano de Segurança

Um plano de segurança é um conjunto de passos práticos que uma pessoa pode seguir caso os pensamentos suicidas aumentem. Ajude a identificar pessoas de confiança com quem ela possa falar, atividades que ajudem a se distrair, e contatos de emergência, como familiares, amigos e profissionais de saúde. O plano deve incluir telefones de ajuda, como linhas de prevenção ao suicídio, para que uma pessoa tenha alternativas de apoio imediatamente.

Esses passos fazem uma diferença significativa, mas lembre-se de que a ajuda profissional pode ser necessária para lidar com pensamentos suicidas.

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